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Na esquina do fim do capitalismo, o beco sem SAÍDA _________________________________________________________________________________


Nenhum dos esforços ou promessas de desenvolvimento nacional se cumprirá, ao menos, não da forma como se imagina ou deseja. A riqueza resultante da produção industrial cai a cada ano desde 1980. A massa salarial dos trabalhadores, responsável pela manutenção dos níveis de consumo, que alimentam essa produção, caíram na mesma proporção, com alguns leves períodos de recuperação, que comparados à média da série histórica, acabam por representar mera estagnação.

É comum a maioria das pessoas, levadas ao erro por economistas de má fé, confundirem o sistema de crédito com o sistema financeiro. Enquanto crédito é a disponibilização de recursos para consecução de um objetivo específico, seja a compra de uma geladeira, ou bens de capital, o sistema financeiro se resume na remuneração do dinheiro pelo próprio dinheiro, atribuindo mais ou menos renda de acordo com um sistema de avaliação totalmente atípico, ou seja, baseado não em uma lógica de demanda (oferta ou necessidade do tomador), mas sim em variáveis que buscam, simplesmente, o aumento das rendas e a sua acumulação vertical.

O sistema de crédito capitalista é uma ferramenta de distribuição de capitais para equilibrar as assimetrias entre áreas deficientes de dinâmica econômica e as áreas mais prósperas, evitando que o acúmulo de poupança interna em países mais ricos pudesse emperrar suas economias, foi substituído por um modelo desregulado, que passou, de forma simplista, a replicar dinheiro pelo dinheiro, fenômeno chamado de alavancagem.

A crise de 2008 não foi uma crise de crédito, quando devedores de juros devidos pelos empréstimos pararam os pagamentos, nada disso. A quebra subprime se deu pelo entrelaçamento de uma rede infinita de títulos criados a partir de outros títulos, que geraram papéis que apostaram na quebra desses papéis, os CDS, e toda essa estrutura de sobreposição de papagaios não tinha nenhuma garantia em aumento de empregos ou renda do trabalhador, mas sim do seu endividamento. Como se sabe, a expansão do setor imobiliário dos EUA foi uma bolha criada por engenharias financeiras. Deu no que deu.

As nações ricas, ao invés de puxar o freio, e ao mesmo tempo, colocarem boa parte dos banqueiros na cadeia, preferiram emitir montanhas de dinheiro para salvar o modelo falido (Quantitative Easy).  Não mexeram nos marcos de regulação, e uma das razões, nos EUA, por exemplo, é que os bancos usaram esse dinheiro para pagar o lobby que evitou que os congressistas votassem leis mais duras. Crime perfeito.

As consequências para o resto do mundo são percebidas até hoje.  No lado mais pobre do mundo, a piora das diferenças cambiais e a exportação de déficits agravou a dependência financeira, criando enormes dúvidas públicas impagáveis, ao mesmo tempo que as privatizações e precarização constante de direitos sociais e trabalhistas pressionam a demanda por serviços públicos, cada vez piores por causa dos endividamentos dos erários.

O problema é que os países (os mais pobres primeiro) e seus orçamentos parecem ter esgotado suas capacidades de endividamento e supressão das condições de vida das suas sociedades. O crescimento inercial do PIB, até dos países ricos, confirma essa tendência.  Os EUA experimentaram, nos últimos anos, crescimento oscilante e inflação persistente. Desde 2008, muita coisa mudou, e para pior. A montanha de dinheiro do sistema financeiro também não se reverteu em mais produção capitalista, do mesmo modo que os burgueses e as expansões coloniais não sustentaram o feudalismo por muito tempo.

É certo que os Estados Nacionais, necessários à transição feudal para o modo de produção capitalista foram mantidos, inclusive com a manutenção de monarquias absolutas.  Até que essa (super) estrutura tornou-se desnecessária, e pior, antagônica à expansão do novo modo econômico de produção.

Com a iminente transição capitalista para a sua fase posterior, apesar do convívio das estruturas capitalistas carcomidas com as formas institucionais conhecidas, partidos, parlamentos, sistemas representativos e etc, há uma nova ordem a caminho, e não significa que será um progresso em relação ao anterior.

Tudo indica que a conformação conhecida de Estado (de Direito) e suas derivações institucionais estão à beira do colapso, tão logo a nova ordem econômica de instalar, e estes arranjos sejam considerados obsoletos e antagônicos.

Parte desse fenômeno já se apresenta nas eleições ao redor do mundo, e nas formas de convívio social, ou seja, nesta percepção de volatilidade que temos em relação à realidade que aprendemos a reconhecer como tal.

O sistema financeiro e seus trilhões de dólares, que são muitas vezes maiores que o PIB da produção industrial mundial (não mais há relação entre um e outro), criou uma nova realidade tecnológica, comunicacional e social, conhecida como internet e, depois, os algoritmos das redes sociais e suas interações com a Inteligência Artificial.

A oposição de classes (luta de classes) é um dos vetores das mudanças de modos de produção, como sempre aconteceu, e parece que do atrito entre as classes proprietárias e as não-proprietárias nasceu uma nova, que não mais vive (apenas) da expropriação da mais valia, mas da replicação financeira das rendas acumuladas nesse processo de ultra exploração recente.

É o fim do capitalismo pelo esmagamento de sua força de trabalho pelo volume gigantesco de riqueza não produtiva alavancada e acumulada exponencialmente. Cada vez menos necessários, uma horda global de descartados se dedicará a uma condição sub humanizada na economia de serviços, onde o produto não é outro senão o próprio trabalhador.

No sistema capitalista, apesar da brutal desigualdade de condições entre os donos do capital e os trabalhadores, onde estes últimos tão somente aceitavam as condições para a venda de sua força de trabalho, sob pena de perecimento, houve a luta permanente para que esta relação desigual se ajustasse a algum tipo de amenização, a depender do processo histórico incidente a cada nação e sua sociedade.

De forma alguma, com raras e conhecidas exceções das revoluções anticapitalistas, estas posições relativas foram alteradas.  No entanto, é forçoso reconhecer que os ganhos foram somados às classes trabalhadoras, através daquilo que entendo ser um mercado representativo eleitoral e as lutas setoriais (sindicais).

A inovação tecnológica e financeira trazida à tona pela ultra digitalização subverte essas relações baseadas em produção de valor através da compra e venda de trabalho, e subtrai a utilidade das instituições conhecidas para mediar aquele conflito anterior, que se tornou obsoleto não por sua resolução, mas sim pela substituição (superação) de novas e mais modernas formas de exploração, reafirmando o que disse Karl Marx.

A ideologia central do capitalismo era fazer crer ao trabalhador que a ele era possível ascender socialmente pelo trabalho, e como correspondência política, incutiu a (falsa) noção de que um homem é igual a um voto, e o sistema representativo resolveria as demandas por direitos suprimidos por este próprio sistema econômico excludente.

Agora, os donos dos algoritmos e dos fundos de investimentos conseguiram criar um mundo onde as formas sociais do trabalho deixaram de ser vistas como relevantes, ou melhor dizendo, assumem uma relevância distinta, confinando estas relações em células individualizadas, que não acabam com o conceito de classe em si, mas as subordinam sob uma forma de alienação jamais vista, e que sempre foi perseguida pelos donos do capital, mas que lhes era impossível pelo próprio sistema de organização do trabalho para a geração dos produtos e dos lucros.  Essa barreira foi quebrada.

Não há mais necessidade de estabelecer uma lógica coletiva (social) do trabalho como requisito de inserção social, já que a nova ordem preconiza a individualização ou a atomização completa da vida econômica em mecanismos de recompensas cada vez mais relacionados com mecanização digital financeirizada, e menos com com resultados econômicos relacionados a algum tipo de transformação industrial conhecida.

Se houver futuro, não parece promissor.

Douglas Barreto da Mata

 

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Edição 216 - Novembro 2024
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Atualização 216: 01-12-2024